A recente perda de peso expressiva do chef Henrique Fogaça, que eliminou 17 quilos em três meses com a chamada “dieta da selva” – um regime focado em carnes e gorduras naturais, com restrição severa de carboidratos –, tem gerado grande repercussão e curiosidade. No entanto, especialistas alertam que tais métodos radicais, embora chamativos, nem sempre possuem embasamento científico e podem apresentar riscos à saúde.
Em entrevista à CARAS Brasil, a médica nutróloga Dra. Cibele Spinelli esclarece os pontos sobre a dieta que viralizou. “As escolhas alimentares de figuras públicas sempre despertam curiosidade, e isso não é diferente quando vemos histórias de perda de peso rápida ou dietas com nomes chamativos, como a chamada ‘dieta da selva’. Mas é importante lembrar que nem tudo que ganha destaque nas redes ou na mídia tem respaldo científico — e que cada organismo responde de forma única às mudanças no estilo de vida”, pontua a especialista.
Dra. Spinelli enfatiza que o termo “dieta da selva” não é reconhecido pela comunidade médica nem representa um protocolo nutricional validado. “Ele se inspira em padrões alimentares tradicionais de populações indígenas, que realmente apresentam excelente saúde metabólica, mas isso está muito mais relacionado à qualidade dos alimentos, ao alto consumo de fibras e à ausência de ultraprocessados, do que à exclusão de carboidratos”, explica.
Um dos principais pontos de debate levantados pela nutróloga é a demonização dos carboidratos. “Zerar carboidratos não é um caminho sustentável nem necessário para a maioria das pessoas. Os carboidratos são nutrientes essenciais para energia, função hormonal, saúde cerebral e — talvez o mais negligenciado — para a saúde intestinal e imunológica. Grande parte das fibras que precisamos diariamente está justamente em alimentos com carboidrato: legumes, verduras, tubérculos, frutas e sementes”, defende.
Segundo a médica, o problema reside na qualidade dos carboidratos consumidos. “Hoje, nós, profissionais de saúde, observamos que o maior problema da população brasileira não é comer carboidrato demais, mas sim comer carboidratos de baixa qualidade e com pouca fibra. A deficiência de fibra é tão relevante que afeta diretamente o metabolismo, o controle glicêmico, a inflamação e até o bem-estar mental”, alerta.
Dra. Spinelli aconselha que, em vez de buscar dietas extremas, o foco deve ser na qualidade nutricional. “O caminho mais eficiente e duradouro está na qualidade do carboidrato que colocamos no prato. Legumes, raízes, frutas, grãos integrais e vegetais são fontes naturais de energia, micronutrientes e compostos bioativos que protegem o corpo de doenças — e não vilões a serem eliminados”, ressalta.
A individualidade é outro fator crucial para o sucesso de qualquer plano alimentar. “O que funciona para um chef famoso, para um atleta ou para um artista pode não ser o ideal para quem tem rotina intensa, alterações hormonais, resistência à insulina ou diferentes objetivos corporais. Nutrição é ciência, mas também é personalização”, afirma.
A médica recomenda cautela ao se deparar com histórias de perda de peso rápida, como a do chef Fogaça. “É fundamental evitar comparações e lembrar que não existe saúde real com extremismos. Dietas baseadas apenas em proteínas ou que excluem grupos alimentares inteiros podem funcionar no curto prazo, mas raramente se sustentam no longo prazo — e algumas podem trazer riscos”, adverte.
Em suma, a especialista reforça que a saúde é construída através da constância e de um estilo de vida equilibrado. “O foco deve ser sempre um estilo de vida que respeite o corpo, a rotina e a individualidade de cada pessoa — sem fórmulas mágicas, sem exageros e sem perder de vista aquilo que sustenta a saúde ao longo da vida: alimentos de verdade, diversidade alimentar e fibra suficiente para nutrir o corpo de dentro para fora”, conclui.