Mais do que um intérprete de samba, Raul Germanos é um contador de histórias. Sua música transborda as narrativas das ruas, do afeto, da luta e da vitalidade que pulsam nas regiões periféricas de São Paulo. Através de sua voz e do toque inconfundível do cavaquinho, ele carrega consigo a profundidade e a beleza de quem vivenciou o samba antes mesmo de compreendê-lo como arte, linguagem, refúgio e, acima de tudo, identidade.
Nascido na Bela Vista e com a infância moldada no Alto do Ipiranga, Raul aprendeu desde cedo com as lições da vida urbana. No entanto, foi ao se estabelecer no Campo Limpo e posteriormente no Capão Redondo, tecendo laços profundos com Taboão da Serra e toda a região adjacente, que sua trajetória ganhou raízes sólidas. Foi nesses territórios, onde o samba reverbera nas calçadas, nos quintais e nas rodas espontâneas, que ele encontrou seu lugar. Esses locais se tornaram não apenas cenários, mas verdadeiras escolas, abrigos e espelhos de sua jornada, transformando o som do samba em uma verdadeira missão.
Criado sob a influência de uma mãe apaixonada por samba e samba-rock, Raul cresceu imerso em melodias que atravessavam gerações. Cada canção era uma semente plantada. O despertar definitivo para sua vocação musical ocorreu durante um evento escolar no Campo Limpo. Diante do cavaquinho e das rodas de samba, uma chama se acendeu, transformando curiosidade em paixão e paixão em um caminho a ser trilhado. Em uma jornada de aprendizado silencioso e profundo, iniciado na casa de um amigo com um pai professor do instrumento, Raul absorveu os ensinamentos dos mais velhos, respeitando o tempo da música e entendendo que o samba exige não apenas técnica, mas também escuta atenta e humildade.
Sua formação musical foi intrinsecamente ligada à vivência e à observação atenta do cotidiano. Entre a percussão e o violão, foi no cavaquinho e na interpretação vocal que ele se descobriu plenamente. Cada roda frequentada, cada verso entoado, cada noite dedicada à arte fortalecia sua identidade. Gradualmente, seu nome começou a ser reconhecido nas rodas do Campo Limpo, Capão Redondo, Taboão da Serra e arredores, aproximando-o de figuras emblemáticas do samba, como Beto Sorriso e Mauro Zabumbeiro, mestres que ajudaram a moldar a história musical da região.
Raul Germanos deu seus primeiros passos profissionais como vocalista do grupo Pegada de Gorila e teve a honra de acompanhar renomados artistas do samba, como Sombrinha. Compartilhou caminhos com compositores de peso, como Zé Luiz do Império Serrano e Marquinhos, além de receber o apadrinhamento musical de Chiquinho Vírgula, parceiro de Arlindo Cruz. Esses encontros não apenas enriqueceram seu repertório, mas solidificaram profundamente sua alma sambista.
Atualmente, Raul Germanos se dedica à produção de seu primeiro trabalho audiovisual, destinado às plataformas digitais. Mais do que um projeto artístico, esta obra representa um testemunho de vida, um samba que dialoga com o presente sem jamais renunciar às suas origens. É um trabalho que reverencia os mestres, honra o chão de onde veio e aponta novos horizontes para as futuras gerações.
Quando Raul canta, ele não está sozinho. Sua voz ecoa o Campo Limpo, o Capão Redondo, Taboão da Serra e toda a periferia. Cada acorde evoca memória, cada verso simboliza sobrevivência, e cada pausa entre as notas narra a história daqueles que, mesmo sem um palco formal, sempre encontraram sua voz.
Raul Germanos personifica o som que emerge do chão, conquistando espaço sem pedir permissão. É o samba que derruba barreiras, transcende distâncias e se consolida como um legado. Ao cantar a periferia, Raul Germanos faz com que o mundo não apenas ouça, mas sinta a força de suas histórias.