A aclamada obra “O Segredo de Brokeback Mountain”, que marcou o cinema com três Oscars e profunda relevância dramática, ganha nova vida nos palcos de São Paulo em sua segunda encenação oficial global. No centro desta produção estão os atores Marcéu Pierrotti e Júlio Oliveira, este último, em conversa exclusiva com o Portal iG, compartilhou os desafios e a profundidade da interpretação de Jack Twist, além de ponderar sobre o impacto da peça no contexto brasileiro atual.
Oliveira detalhou sua abordagem para dar vida a Jack, focando na essência do desejo que impulsiona o personagem. “Nem todo mundo sucumbe ao desejo. Jack sim. Ele reconhece o desejo em seu corpo e, mesmo que de maneira retalhada, o exerce. E, na minha opinião, são essas pessoas que fazem a roda do mundo girar”, declarou o ator.
A construção física do papel, que exige a representação de um atleta de montaria, demandou uma preparação minuciosa. Júlio buscou um equilíbrio entre a vitalidade juvenil e os desgastes físicos inerentes à profissão. “Tento juntar a vitalidade de um corpo jovem que vai envelhecendo com muitas fraturas do trabalho de montaria ao longo dos anos. Esse contraste me permite um trabalho mais rico”, explicou.
Assumir um personagem com tamanha carga simbólica e em uma adaptação ainda inédita em grande parte do mundo, é, para o ator, um ato de ousadia e responsabilidade. “Quando a história do mundo for contada, terá lugar especial para os ousados”, afirmou. Oliveira revelou que ingressou no projeto através de audições no Rio de Janeiro e que, agora, também lidera a produção paulista. “Não poderia deixar essa história parada. É uma das melhores dramaturgias que já interpretei. É potente. É inevitável. É cruel. Brokeback é urgente. É, infelizmente, assunto de ontem e de hoje.”
Na visão de Júlio, a direção de Moacyr Góes é um dos pilares da nova montagem. “O grande trunfo dessa produção é a direção do Moacyr. O olhar humano sobre o ser humano miserável traz uma potência absoluta pro espetáculo”, ressaltou.
O ator acredita que a peça provocará reflexões profundas no público, especialmente no que tange às questões de desigualdade e aceitação. “Nem todo mundo começa do mesmo lugar. Pagar um preço absurdo apenas por ser quem se é. Esse é o incômodo que eu espero que o público reflita.”
A dinâmica com Marcéu Pierrotti, intérprete de Ennis Del Mar, foi igualmente fundamental. “O Marcéu é gigante! Nosso maior trunfo foi estabelecer muito bem as entrelinhas dessa relação. Brokeback tem dramaturgia simples, personagens simples. A beleza está nas entrelinhas.”, comentou.
Uma novidade desta temporada é a participação de Daniel Tonsig, que também encarnará Ennis em algumas sessões, proporcionando diferentes perspectivas sobre o personagem. “São duas versões igualmente maravilhosas da nossa produção”, adiantou Júlio.
A adaptação teatral, concebida por Ashley Robinson a partir do conto original de Annie Proulx, retoma a envolvente narrativa de amor proibido entre Jack Twist e Ennis Del Mar, ambientada nos anos 1960, e imortalizada nas telas pelo diretor Ang Lee. A nova proposta cênica prioriza a força das conexões humanas e a sutileza das entrelinhas para guiar o público por um universo de desejos reprimidos, barreiras sociais e profunda vulnerabilidade.
A temporada paulistana de “O Segredo de Brokeback Mountain” tem estreia marcada para 14 de janeiro, no Teatro Itália, com apresentações até 22 de março.