Com uma trajetória consolidada ao longo de 27 anos, Fábio de Luca celebra sua jornada artística, marcada pela versatilidade e pela transição fluida entre o universo digital, o palco, as telas de cinema e a televisão. Em uma conversa exclusiva com a coluna Fábia Oliveira, o ator e roteirista compartilhou suas reflexões sobre o processo de amadurecimento profissional, sem jamais perder o entusiasmo pela arte.
“O tempo nos presenteia com sabedoria, um certo grau de segurança e, acima de tudo, com a rica experiência de vida, que é um alicerce indispensável para qualquer intérprete”, destacou Luca.
Um divisor de águas em sua carreira foi a participação no coletivo Porta dos Fundos, projeto que impulsionou sua visibilidade e abriu novas avenidas profissionais. “O Porta se tornou uma espécie de patrimônio cultural do humor brasileiro”, ressaltou.
Paralelamente, o artista encontrou um espaço para a expressão autoral com o grupo Amigos da Luz, uma iniciativa que mescla humor e espiritualidade, e que ele descreve como um dos trabalhos que lhe proporcionaram maior liberdade criativa. Atualmente, o público pode acompanhar Fábio de Luca na novela ‘Êta Mundo Melhor’, onde interpreta o detetive Sabiá, um personagem conhecido por suas trapalhadas. Para 2026, novos desafios o aguardam com a participação no remake de ‘Dona Beija’, interpretando o Coronel Tenório Madeira, um papel que representa uma mudança radical em relação aos seus papéis cômicos.
“É um homem de poder, abastado, e que se distancia completamente do Sabiá”, adiantou.
Entrevista completa com Fábio de Luca:
Sobre sua evolução em 27 anos de carreira: “O tempo traz e leva coisas, não é? Ele nos concede sabedoria, maturidade, uma certa segurança e, o mais importante, a experiência de vida, essencial para qualquer ator. Nosso material é a própria existência: os conflitos, as emoções, os dramas. Por outro lado, o tempo pode minar o brilho nos olhos, a audácia de arriscar, a vontade de experimentar. A rotina pode nos fazer esquecer o quanto amamos atuar e o privilégio que é viver disso.”
Ponto de virada na carreira: “Sem dúvida, o Porta dos Fundos. Apesar de já ter atuado em outros canais do YouTube anteriormente, como o Parafernalha, a entrada no elenco principal do Porta gerou um impacto imenso na minha trajetória. Outro momento crucial foi a criação do grupo Amigos da Luz com amigos. Lá, pude unir humor e espiritualidade, temas que me fascinam, e também criar, produzir, dirigir, experimentar e realizar projetos com total liberdade e independência, tanto em vídeo quanto no palco.”
Experiência no Porta dos Fundos: “Fazer parte de um elenco tão talentoso, conviver e colaborar nas criações foi uma escola inestimável. O Porta se consolidou como um marco na cultura do humor nacional. Essa experiência ampliou minha visibilidade, abrindo inúmeras portas para a televisão, o cinema e o teatro. Sou imensamente grato por tudo que vivenciei lá.”
Lidando com diferentes linguagens (internet, TV, cinema, teatro): “Cada formato possui seu próprio ritmo. Ao compreendermos isso, a gente consegue direcionar melhor o trabalho. O conteúdo para a internet, por exemplo, exige agilidade: escrever, gravar, finalizar e lançar rapidamente. É uma corrida de 100 metros. Já a novela é uma maratona, demandando um gerenciamento cuidadoso de fôlego e energia. O teatro vive o ‘aqui e agora’, a energia pulsante do momento, sem registro, nascendo e morrendo ali. O cinema se assemelha mais à carpintaria. No fim, tudo é um jogo, apenas os ‘brinquedos’ mudam.”
Preparação para o papel de Sabiá em ‘Êta Mundo Melhor’: “Sabiá é uma figura singular! Um detetive desastrado, com traços de Clouseau e Chapolin Colorado, mas que almeja ser o Sherlock Holmes da cidade. A preparação focou em encontrar a humanidade por trás das trapalhadas. Busquei que ele fosse engraçado, mas também cativante e autêntico. Um personagem pelo qual torcemos, mesmo sabendo que cometerá erros. A gravação tem sido muito divertida, e espero que o público compartilhe dessa alegria ao assistir!”
Sobre o remake de ‘Dona Beija’ e o Coronel Tenório Madeira: “Tenório Madeira é diametralmente oposto a Sabiá. Um homem poderoso e rico, com um papel crucial na primeira fase da trama. Sua participação é breve, mas marcante. Para mim, além de ser um presente integrar a produção de uma história tão clássica, foi um desafio: é meu primeiro trabalho com cenas completamente nu!”
Participação em séries e realities, e abordagem entre diferentes mídias: “Totalmente diferente! O ‘LOL’ foi uma experiência surreal. O desafio era fazer rir sem sucumbir à própria risada, em um ambiente controlado e, na minha temporada, cercado por adversários que conhecem suas fraquezas e são mestres da comédia. Em ‘Pablo e Luisão’, foi uma participação minúscula, quase uma piada, mas extremamente prazerosa. Tenho grande admiração por Paulo Vieira, o que por si só já me conquistou. Já na novela, construímos um universo dramático que se desenrola por meses, exigindo do personagem uma base mais sólida e consistente.”
O canal ‘Amigos da Luz’ e a união entre espiritismo e humor: “O Amigos da Luz surgiu do desejo genuíno de abordar a espiritualidade de maneira leve, acessível e bem-humorada. Sendo espírita, assim como os demais membros do grupo, percebíamos o interesse do público pelo tema, mas também a percepção de que ele poderia ser visto como sisudo ou formal. Pensamos: por que não falar sobre isso com leveza? Fazer as pessoas rirem e, ao mesmo tempo, refletirem sobre espiritualidade e a conexão com algo maior? Acreditamos que o humor não diminui a seriedade desses assuntos; ao contrário, os torna mais próximos e compreensíveis. Produzimos esquetes, peças e vídeos no YouTube, mantendo essa linha, e tem sido um sucesso! É um projeto com quase 20 anos que me enche de orgulho.”
Reflexões sobre a carreira e momentos que gostaria de reviver: “Profissionalmente, não mudaria nada. Mas, se pudesse voltar no tempo, reviveria momentos cruciais da minha trajetória como ator. Como a primeira vez que vi teatro na infância, ‘Pluft, o Fantasminha’, e senti que havia encontrado meu lugar. Ou a estreia da primeira peça dos Amigos da Luz, experimentando o sucesso de um trabalho autoral. Ou o telefonema de João Vicente me convidando para o Porta, transformando minha carreira. E a notícia da aprovação para a novela, realizando um sonho e iniciando um caminho na TV que, espero, seja longo e repleto de ‘Sabiás’!”
Conselhos para novos atores: “Primeiro: mantenham-se em movimento, não esperem por ‘uma chance’; criem suas próprias oportunidades. Hoje, com um celular, é possível produzir conteúdo e mostrar seu trabalho. Segundo: busquem experiência em todas as frentes – teatro, curtas, filmes independentes, esquetes, personagens solo. Qualquer oportunidade de atuar é valiosa e pode render aprendizado e networking. Terceiro: cuidem da saúde mental e da autoestima. A profissão é repleta de ‘nãos’ e incertezas; uma base emocional sólida é crucial para não desmoronar. E, por último: divirtam-se! Se, apesar dos desafios, a atuação não for minimamente prazerosa, talvez seja hora de reavaliar o caminho.”