A Região Metropolitana de São Paulo atravessa uma grave crise energética pelo terceiro dia consecutivo. Dados da Enel, divulgados na noite de sexta-feira (12/11), revelam que 567.605 clientes, o equivalente a 6,67% da área de concessão, ainda estavam sem abastecimento. Na capital, a situação afeta 389.119 domicílios, representando 6,70% do total de consumidores.
O colapso no fornecimento teve início após um violento vendaval, impulsionado por um ciclone extratropical, que atingiu a Grande São Paulo na quarta-feira (10/12). De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as rajadas de vento alcançaram 98 km/h e o fenômeno climático se estendeu por aproximadamente 12 horas.
A ventania causou a queda de árvores, galhos e objetos sobre a infraestrutura elétrica, danificando postes, transformadores e cabos. Durante o evento, o Corpo de Bombeiros atendeu a mais de 1,3 mil ocorrências relacionadas à queda de árvores.
No pico do apagão, na quarta-feira, cerca de 2,2 milhões de imóveis na Grande São Paulo ficaram sem energia. Embora aproximadamente 1,8 milhão de clientes tenham recuperado o serviço até sexta-feira, novos desligamentos ocorreram na manhã de quinta-feira (11/12) devido a novos ventos, elevando novamente o número de afetados.
Em nota, a Enel informou que a complexidade do restabelecimento em algumas áreas se deve à necessidade de reconstrução da rede elétrica, incluindo a substituição de postes, transformadores e quilômetros de cabos. A concessionária declarou ter mobilizado cerca de 1.600 equipes em campo, mas não apresentou um prazo definitivo para a normalização completa do serviço até sexta-feira.
Diante da persistência do problema, a Justiça de São Paulo, acolhendo um pedido do Ministério Público, determinou que a Enel restabeleça a energia elétrica no estado. A decisão estipula o retorno do fornecimento em até quatro horas para estabelecimentos prioritários e em até 12 horas para os demais consumidores.
O Judiciário criticou a comunicação da concessionária, apontando falhas na oferta de previsões claras e precisas de restabelecimento, o que, segundo a decisão, ampliou a vulnerabilidade de grupos como idosos, crianças, pessoas com deficiência e eletrodependentes, além de paralisar serviços essenciais e atividades econômicas. O promotor Denilson de Souza Freitas solicitou uma multa de R$ 200 mil por hora em caso de descumprimento, com a ação também assinada pela Defensoria Pública.
A falta de energia impactou severamente a rotina e os serviços. A Ceagesp, maior central de abastecimento da América do Sul, ficou mais de 40 horas sem luz, com o fornecimento restabelecido apenas na sexta-feira. A Prefeitura de São Paulo notificou a Enel e a Aneel, criticando a aparente lentidão na atuação da concessionária, com base na observação de que o pátio de veículos da empresa permaneceu lotado nos primeiros dias da crise, enquanto poucos veículos de atendimento circulavam.
Famílias com idosos, doentes e pessoas acamadas foram as mais prejudicadas. Luiz Felipe Lima, produtor de eventos, relatou ao g1 as dificuldades em cuidar de seus pais idosos, um deles acamado e dependente de medicamentos refrigerados, sem energia há três dias. Ele descreveu a frustração com o atendimento automatizado da Enel e a falta de resolução, afirmando que buscará seus direitos na Justiça. Lima também mencionou um asilo com cerca de cem idosos na mesma rua, igualmente afetado, criticando a falta de planejamento e priorização de casos urgentes por parte da empresa.
Especialistas explicam que a distribuição desigual de energia, mesmo em bairros próximos, está ligada à estrutura radial das redes de distribuição, com diferentes ramificações alimentando áreas distintas. Dispositivos de proteção podem isolar trechos específicos da rede em caso de falhas. O professor Eduardo Nobuhiro Asada, da USP, ressalta que eventos climáticos extremos exigem planejamento contínuo e melhorias estruturais por parte das concessionárias.