Aos 26 anos, a atriz Isadora Ruppert vivencia um marco em sua carreira com a participação em ‘O Agente Secreto’, filme que transcende a tela ao abordar feridas históricas do Brasil. A obra, com indicações ao Globo de Ouro e pré-candidatura ao Oscar, aprofunda a atuação de Ruppert como Daniela, personagem que se torna um elo crucial na trama, conectando o passado à realidade contemporânea e enriquecendo as nuances políticas do longa.
Para a atriz, o projeto representa mais do que um trabalho artístico; é uma oportunidade de revisitar memórias e confrontar a tendência do país de esquecer seu próprio passado. Em entrevista exclusiva, Ruppert compartilhou a profundidade dessa conexão: “Quando eu vejo o filme, eu reconheço ali muitas coisas em que eu acredito e que considero absolutamente necessárias: conhecer a nossa própria história, entender o que aconteceu no passado, refletir sobre essa memória coletiva e sobre o porquê de o Brasil ser um país que, tantas vezes, se esquece das coisas”.
O impacto emocional de ‘O Agente Secreto’, segundo ela, reside na forma como o filme entrelaça eventos de 1977 com os últimos dez anos da história nacional, evidenciando ecos que ainda ressoam. “E eu acho que o filme é tão importante justamente por isso: porque ele nos convida a enfrentar o que aconteceu, a reconhecer essas feridas e a entender que só encarando o nosso passado conseguimos avançar como sociedade”, complementou.
Orgulho brasileiro em Cannes
A relevância política do filme ganhou destaque especial durante a participação de Ruppert no Festival de Cannes, um momento emblemático para o cinema nacional. A atriz descreveu a experiência como um ponto alto de sua trajetória: “Eu me senti profundamente realizada. Estar ali na premiação, vendo o Kleber e o Wagner ganhando os prêmios de melhor diretor e melhor ator, me trouxe uma alegria imensa”. Naquele instante, ela sentiu que representava não apenas o elenco, mas a identidade brasileira em sua totalidade: “Eu me senti verdadeiramente brasileira. Representando esse país que eu amo e admiro tão profundamente”.
O reconhecimento internacional, na visão da artista, é um impulso para toda a indústria cinematográfica do país. Após o sucesso de ‘Ainda Estou Aqui’, vencedor do Oscar, e agora com ‘O Agente Secreto’, Isadora Ruppert lida com a ascensão meteórica com uma mistura de gratidão e pragmatismo. “Eu me sinto muito feliz, porque são dois filmes que realmente me contemplam, não só como artista, mas como pessoa”, refletiu. Ela também ressaltou a importância de celebrar cada conquista, mesmo diante dos desafios inerentes à carreira de uma artista brasileira: “É uma alegria enorme poder participar desse momento — não só como alguém que está vendo tudo acontecer, mas como alguém que está, de fato, construindo isso junto”.
Um tema que atravessa gerações
A ligação de Isadora com ‘O Agente Secreto’ é intensificada por uma vivência pessoal profunda. A ditadura militar marcou sua família de maneira indelével, especialmente sua avó, que sofreu perseguições por duas décadas. Essa herança emocional, segundo a atriz, molda não apenas sua compreensão do tema, mas a forma como ela se entrega a papéis que dialogam com esse período histórico. “O tema da ditadura sempre foi muito presente na minha vida, porque cresci ouvindo minha avó contar o que ela viveu naquele período”, revelou. Para ela, honrar essa memória é um ato de respeito ao país: “Por isso, poder falar sobre esse assunto hoje, de forma tão livre e aberta, tem um peso enorme para mim. É uma maneira de honrar a história da minha família e, ao mesmo tempo, lembrar que essa também é a história do nosso país”.
Quando vida pessoal e trabalho se encontram
A construção da personagem Daniela demandou não apenas imersão emocional, mas também pesquisa e coincidências significativas. Curiosamente, no período em que recebeu o convite para o teste, Isadora estava imersa na pesquisa de documentos no Arquivo Nacional, buscando registros de sua família polonesa. Essa imersão em materiais históricos e narrativas de outras vidas acabou por influenciar diretamente sua interpretação. “Essa vivência me deu muita intimidade com esse tipo de material e acabou influenciando diretamente a construção da Daniela”, explicou. Ela acredita que a convergência de sua história pessoal com o universo do filme conferiu ao seu trabalho uma camada de autenticidade única: “Com certeza usei essa experiência pessoal para dar mais verdade e profundidade ao papel”.